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Yara Nakahanda Monteiro vence Prémio Literário Glória de Sant’Anna 2022

12/05/2022

«Trineta da escravatura, bisneta da mestiçagem, neta da independência e filha da diáspora», Yara Nakahanda Monteiro estreou-se na poesia com Memórias Aparições Arritmias, publicado em outubro pela Companhia das Letras. Um registo íntimo, tateando nas palavras a essência da condição feminina, da natureza, da identidade e da pertença, das memórias e dos sonhos. Este livro acaba de ser anunciado como o vencedor do Prémio Literário Glória de Sant’Anna 2022, que premeia o melhor livro de poesia em língua portuguesa.

O Júri deste ano foi composto por Ana Paula Tavares, Andrea Paes, Jacinto Guimarães, Jane Tutikian e Xosé Manuel Eyré.

O Prémio Literário Glória de Sant’Annaé um prémio Internacional de Poesia em memória da Poeta Glória de Sant’Anna.

A Jurada Jane Tutikian refere no seu texto de apreciação: «Não se pense em rodeios estilísticos, em jogos de figuras de linguagem, em complexidade. Ao contrário, os poemas são construídos numa linguagem simples, objetiva, libertando, assim, a subjetividade e co-criação imagética do leitor.

É como se busca essa vida movente, na infância, na adolescência, em Portugal ou em Angola, no passado, no presente, buscando a constituição do ser, esse, sim, em sua complexidade, forjado pelo entorno. Há violência, há perdas, há trânsitos. Há aparições, há ambivalências, há lutas, preconceitos, sexismo, racismo… Há, sobretudo, uma grande poeta, capaz de decretar “ Eu sou de onde estou”, do poema “Previsão do Tempo” e, no poema final, quando tudo, aparentemente termina, tudo, efetivamente, começa com “Lado a lado”: “Junta-te a nós”.»

O Jurado Xosé Manuel Eyré Val refere no seu texto de apreciação: «Considero que a temática directora do poemario é a futilidade, fraxilidade e evanescencia da percepción da vida, nacida da tensión que se establece entre unha moi forte introspección (ollada para dentro do eu propio) e outra tamén moi forte extropección (ollada sobre o mundo de fóra). Esta tensión está resolta cun dominio da palabra, espazo e ritmo moi salientábes tecnicamente falando. Desde o punto de vista temático interesoume a defensa e reivindicación da muller, que sempre é unha muller que sofre maltrato vital, sexa quen sexa o culpábel desta situación, que pode variar, na ecuación sempre se mantén o mesmo resultado: a dor e desosego que contaminan e tinxen a súa experiencia vital. Tamén me parece que cualificala como “decolonial” xa non obedece a un criterio estritamente realista. Claro que é decolonial, como será toda poesía após a independencia. Mais eu optaría por comezar a falar dunha xeración do século XXI e establecer as súas preocupacións temáticas e formais.»

Tranço o cabelo
dizem
quero parecer mais preta

Faço brushing
dizem
quero parecer mais branca

Na frente quente vinda do hemisfério sul 
os caracóis secam desordenados
perguntam quero parecer de onde?

«Eu sou de onde estou.»

Os seus poemas transportam-nos para outros tempos e espaços: o da infância e adolescência na periferia de Lisboa; o das histórias da vida em Angola, contadas pela avó. Neles brotam desassossegos rabiscados em cadernos, esboçam-se trilhos imaginados a partir das grandes questões que definem quem somos. 

A meio caminho, corre a vida de todos os dias e surge uma voz literária envolvente, encantatória, impossível de ignorar.

Qualquer ressonância com a realidade é poesia.

Yara Nakahanda Monteiro nasceu em Angola, na província do Huambo, em 1979, e cresceu na periferia de Lisboa. Estudou Gestão de Recursos Humanos, área em que trabalhou durante quinze anos. 

Tem colaborado na escrita de argumentos e guiões para artes audiovisuais. O seu primeiro romance, Essa Dama Bate Bué! (2018), aborda questões de identidade, pós-memória, género, colonialismo e diáspora. Memórias Aparições Arritmias é o seu primeiro livro de poesia.

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